sábado, 10 de março de 2012

A lenda da poetisa cega


Numa pequena aldeia, nasceu uma menina cega. Ninguém sabia da cegueira até que a criança completou seus três anos e passou a esbarrar em tudo. Para tristeza dos pais a pequena criatura recebeu todos os cuidados que alguém que não pode ver o mundo receberia.

Apesar do fato a garota, agora mais velha, havia aprendido a enxergar o mundo com as mãos. Tocava nas coisas todas e sempre passava no rosto para senti-las. Dos bichos ás plantas, as sensações do universo eram absorvidas assim pelo contato, tato, olfato e paladar, eram absorvidos pelos sentimentos do olhar escurecido por Deus.

Mais adolescente e esperta, a mocinha cega passou a percorrer a aldeia sozinha. Era ágil e caminhava ouvindo seu andar pelos campos. Sentia o Sol durante o dia e a banhava-se com o Luar. Nunca aprendera a escrever, mas declamava versos o dia todo que eram compostos na sua mente criativa e poética. Declamava-os ao vento, aos bichos, aos homens, às crianças, aos mendigos, aos ricos. Eram versos de encantamento e calmaria.

Naquela manhã, a moça decidiu que era hora de sentir as águas do rio que corriam pela aldeia. O rio verde e profundo engoliu a garota cega para seu fundo em redemoinhos contínuos, não houve como gritar, apenas entregou-se à morte. A família nunca mais soube da moça, muito menos do que tinha acontecido com ela.

Porém, passados alguns meses, um velho pescador jurou ter lido nas águas do rio da sua aldeia, versos e poemas refletidos nas superfícies do rio. Ninguém acreditou nele. Novas pessoas também juravam ter lido pequenos poemas e toda a aldeia percebeu o que havia ocorrido. Muitos vinham de lugares distantes para ler as poesias do rio da poetisa cega. E a menina cega pode descansar em paz.

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