sábado, 31 de março de 2012

RÉQUIEM PARA O VÉIO CHICO


O velho Chico acordou hoje com uma vontade imensa de correr para o mar. Estava cansado, muito cansado... Com a falta dos homens jogando seus pequenos puçás e as moças novas lavando as toalhinhas sujas das regras mensais, sentia-se solitário a cada nascente manhã.

Em seu leito impregnado de uma vida agora torta e sem graça estava mesmo determinado a morrer. Da morte assim morrida, da morte pela velhice, abandono e pelo cansaço. Mal o dia terminava, Chico tratou de rumar para o mar. Ia tranquilo e sereno, devagar e pensativo.

Deu uma última olhada para o rastro de poeira seca que havia deixado para trás. Ninguém acenava para ele. Os moleques não tomavam mais banho por ali; nem mais um descarrego era solto nas suas encruzilhadas. Olhou mais uma vez para sua nascente lá longe e não enxergava mais nada.

 Acelerou num ritmo final dando o último suspiro das suas forças e desembocou toda a sua derradeira doçura no mar aberto e revolto. Sumiu espalhando-se em cada espuma salgada que se formava, foi assim dissipando ao vento, perdendo a cor e o jeito do véio Chico, para nunca mais voltar.


Nenhum comentário:

DOIS AXIOMAS RALÉS

  AXIOMA AMOROSO Entender o outro É respeito Aceitar o outro: amor.   AXIOMA REVOLTO Ahhhhhhhhh! Ignorância É a matriz da acei...