sexta-feira, 29 de julho de 2011

BLÁBLÁBLÁ


A língua, essa nossa língua, a tal portuguesa, ao mesmo tempo em que me fascina, confunde e assusta. Digo isso por conta do entendimento das palavras e construções, as conotações diante das denotações, o dito pelo não dito, o objetivo pelo subjetivo. A velha história do que foi falado e mal interpretado. Isso é cotidianamente revelado em todas as conversas e cada vez tem se tornado pior. “Não foi isso que eu quis dizer.”

Não faz nenhuma diferença se a pessoa que fala, sabe bem ou muito bem, usar nosso dialeto; a questão não é essa; mesmo nas linguagens mais simples, há sempre confusão, e sinto também um crescente abuso dos monólogos. Observo as conversas e vejo duas pessoas isoladamente, num diálogo inócuo, que não avança, palavras soltas, blábláblá, diz aí que eu digo daqui, e fim.

Para uma amante da boa prosa, o que estou querendo dizer, e deixar claro, claríssimo, é que nada substitui o bom “papo”, bem construído, a partir de um diálogo, que pressupõe o ouvir-falar-ouvir, emoldurado numa progressão, em que ambos, ou todos os falantes, costurem ideias, opiniões, gargalhadas, agregando informações, acrescentando alma á fala e compondo uma crônica verbal do instante.

Constatar isso em parte do meu universo é triste, porém, ainda sou salva por um grupo de amigos, variadíssimos, em que só entra na turma que não tem medo de dialogar, cuspir, falar das besteiras às profundezas, porque a questão não está na conversa em si, mas na troca que produz, na eterna cumplicidade de ouvir e dizer.


Um comentário:

Fábio Roberto disse...

Muito bom! Ainda bem que existem pessoas para dialogar no mesmo diapasão. Falar com as paredes seria muito chato!

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