QUATRO DE MAIO

Naquela tarde o marido chegou do sítio de um amigo com o porta-malas repleto de laranjas do tipo lima, lindas, lisas e muitas. A mulher grávida dos nove meses completos havia sonhado na noite anterior com uma menina. Sabia que era uma menina, já que naquela época não se viam os bebês pelas ondas mecânicas.

Olhou para as limas alaranjadas e começou a chupá-las. Uma a uma prazerosamente, suavemente descascadas e engolidas como só uma mulher prestes a dar a luz sabe fazê-lo. Depois de refestelada, a mulher e sua filha adocicadas puderam repousar em paz.

Lá pelas tantas do dia quatro de maio, as dores de barriga, quer seja das laranjas ou não, incomodaram a mulher. Era hora de nascer. Em corrida para o hospital, a mulher sentia leves contrações. Ligaram para o médico. Entraram na maternidade e prepararam a senhora para outra cesariana, era seu segundo filho.

A mulher pensou parir o neném, mas eram as laranjas que saiam provocadas pelas contrações. Entre uma contração e outra a doce mulher cochilava. Nada de médico chegar. Lá pelas nove da manhã uma parteira veio dar uma olhada. O bebê ia nascer; a senhora ia ter um parto normal. Nada de médico.

A parteira informou o marido que não podiam esperar mais, via-se a cabecinha. E assim meia hora depois, com a maior normalidade que um parto pode ter, numa expulsão suave e adocicada pelas limas, a menininha nasceu. Sim era redondamente branca, carinha de lua, nas mãos da parteira e pousada no colo da mãe.

E o médico? Chegou e foi erguido pelos colarinhos.

E a menina já sonhava com sua nova vida...