Preferia mesmo, meu grande,
velho-novo, amigo, olhar nos teus olhos e poder conversar, sem hora, sem
paradas, até cansar a voz e esvaziar os pensamentos, MAS, (como eu odeio as
adversativas) a vida emperra "nucotidiano" e só nos restam as letrinhas
miúdas.
Não sei bem se gostei do que me
perguntou, acho que definitivamente não, subi no ônibus. Além do que, não está
perfeito; acho que você poderia fazer um palíndromo metalinguístico, eu
explico, falar do próprio versoinverso, direitoesquerdo, frentetrás... É mais
sua cara.
Pensei em você quase todo dia e
não sabia o porquê. Talvez aquela coisa da sincronia, que sequiosamente
procuramos na vida, você escrevendo e eu pensando em falar, escrever e tum, nos
esbarramos, ainda bem.
Você me fez lembrar de um conto de Tchekhov, chamado a Primavera, leitura quase
obrigatória, não tudo dele, alguns contos, esse em especial, depois entenderás.
O grande amor está bem, é um grande amor mesmo, já que tenho determinadas vezes
vontade de matá-lo, esganá-lo e não o faço. Digamos que estamos na fase do
morde e assopra, há um certo desgaste, mas se a parede não descasca não vemos
os afrescos, (Nossa! Que metáfora mais-ou-menos).
Não vou conseguir relatar tudo que tínhamos para conversar, porém, a
saúde voltou, e espero que a sua também. Estou um tanto cansada, de algumas
questões muito sérias, relativas a caráteres, a modos de ver, a gentes, coisas
que discordo, coisas inafiançáveis, e que, nada posso fazer ou mudar, pois
estão pregadas no mundo: terríveis injustiças e enganos. Nada que uma carta
possa explicar, era só para responder como está o coração: esfarrapado.
Paradoxal seu texto. Calo-me ou
continuo. Não sei. Realmente agrada-me muito ser seu Redbull-literário, porém,
ao ferir as palavras firo-me. Minha mãe tem uma história engraçada. Foi
obrigada quando mocinha a aprender a costurar, pegou o diplominha. Sempre odiou
costurar e até hoje quando caseia ou cerzi, reclama, "isso é
autopunição". Comigo é algo parecido, peguei o diplominha e tudo que
escrevo parece meio patético, torto, assim como as barras das calças que mamãe
costura, umas mais longas que as outras. Então.
Fica complicado, porque percebi
que escrevo para você talvez porque você não ligue para a tortuosidade da minha
poesia, não há julgamentos e as respostas são acolhedoras. Essa nossa poesia
díade (se é que me permite dizer assim) faz-me muito bem mesmo.
Não sei,
se-já-consigo-parar-mais...
Você não é mais frio, é mais
escritor que eu, nenhuma mágoa ou ressentimento há nisso, apenas inveja aliada
ao desejo. E cá para nós estou nua diante de ti meu grande amigo. Deixo
escorrer a verdade porque não sou boa nisso. O modo é peculiar, a personalidade
transparece, contudo, nada é digno de boa literatura. Você escreve a boa e
necessária literatura, não fria, mas casual, contida, com sentimentos da vida
que verve, e não do homem que padece.
Não deixo barato e sou brava, não
dou chance para o outro descobrir o que é, mas você é diferente: há em você uma
simplicidade irritante que o transforma num verdadeiro poeta. Quando arrisco
esse jeito de escrever, de provocá-lo, de perguntar e exigir, é só para me
deliciar com tuas respostas que sempre me dão um prazer incrível, pois era
justamente o que eu gostaria de escrever e não consigo.
Acho que definimos desejo.
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