terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Olhos míopes

Cantina dos músicos, Leandro canta e não consigo entender a música, pois Enrique chora junto ao André um clarinete. Enquanto os dois continuam a clarinetear meu olhar cruza os olhos vivazes, serenos e doces de Márcia e meu corpo se lança num abraço saudoso e sincero.
Olho para o Fábio Roberto e começo a suar frio. A Kodak veio. Já haviam tomado algumas cervejas, tento beber logo para amenizar o sofrimento e a angústia da maquininha a minha frente.
Leandro sorri para mim e meu coração agradece. Ainda aflita não reconheci a melodia, mas isso não importa, sua voz me sorri e começamos a rir do todo. Volta Carlão. Numa tequila imaginária Carlos  e eu esguichamos limão nas lentes. Meu intuito era atingir as oculares da velha Kodak e oxidá-las para que meu pavor chegasse ao fim. Em vão limpo minhas lentes e decido ficar míope.
Finalmente, salva por um átimo, Márcia delineava-se no palco de mãos dadas com Leandro. Agradeci por estar ali, com aquela gente toda, entregue, simplesmente unida e tão diferente, mas urgente no querer sentir.
Jairo aponta e tenta sorrir; ofereço batata-frita e Jorge Bem Jor, porém ele recusa. Prefere ir com a Rô dormir. Ela me beija com uma ponta de ficar. Volta Rô! André passa. O garçom quase recolhe meus óculos e meu olho míope escuta Valsa Brasileira, quase chora. Sinto uns flashs brilharem e quebrarem meu silêncio. Maldita conspiração! Thaty me beija antes de capturar mais um retrato indesejável de minha alma e me entrego á doce Thaty.
Carlão pensa em sua consorte; Fábio borbulha Márcia e bêbada, beijo Enrique, certa de que já o conhecia mil anos antes de conhecê-lo.
Click! Que maçada! Entrego-me. Ufa, minha Sarah chega. Ensina-me como disfarçar uma foto. Acostumou-se. Ensina-me mais, ensina-me a querê-la cada vez mais e assim trocamos afetos eternos naquele bar.
Leandro Tem Fome. Márcia também. E entre uns cigarros e outros Celi lembra que alguém tem que trabalhar nessa casa e mesmo cansada samba, com promessas de replay.
Os olhos luzeiros de Fábio Roberto se perdem no ontem-amanhã. Meu olho divergente tenta captar seus sentimentos e o tempo pára para nós dois. Ele na busca da sua eternidade e eu no entendimento.

“Olha o passarinho!”
Nossa foto ficou boa. É um sofrimento acabar em foto. Temos que ir. Não quero que acabe. Meus olhos ganham óculos e sinto a dor da despedida. Porque ali não era eu, éramos nós.

Nenhum comentário:

DOIS AXIOMAS RALÉS

  AXIOMA AMOROSO Entender o outro É respeito Aceitar o outro: amor.   AXIOMA REVOLTO Ahhhhhhhhh! Ignorância É a matriz da acei...