sexta-feira, 27 de maio de 2011

CONTO DE UM AMOR SÓ

Primeiro episódio
O homem caminhava a passos largos e olhava para trás constantemente, não sabia se tinha sido seguido por aquela louca daquela mulher. Apertou o passo o mais que pode e entrou numa ruazinha desconhecida. Respirou até recuperar o fôlego sem conseguir e sentou, escorrendo pelas paredes sujas até encostar-se à guia.
Ficou ali por quase meia-hora. Mais aliviado tomou o ônibus para casa. Na guarita, falou ao porteiro e proibiu a entrada de qualquer pessoa. Perguntou se o rapaz havia entendido. Não queria que ninguém subisse e nem avisasse que estava em casa.
O celular tocou ainda no hall de entrada e ele se assustou. Olhou o número e desligou o aparelho. Tomou o elevador e entrou no apartamento. Antes mesmo de abrir a porta ouviu o telefone tocar insistentemente e deixou pegar a secretária eletrônica. Depois do bip não ouviu senão o “clik” do desligar.
Sentou no sofá e sentiu um calor absurdo. Tirou a malha e o telefone tocou novamente. Pode sentir a respiração da mulher do outro lado da linha. Nada foi dito, só escutava o arfar, alto e sonoro. Tirou o telefone do gancho e foi tomar um banho.
No quarto, enrolado na toalha escutou o interfone e ficou teso com medo do que poderia ser. Abriu uma estreita fresta da cortina e olhou para baixo, viu que ela estava lá embaixo falando com o porteiro. Fechou bruscamente a cortina e deitou na cama.
Ligou o celular e escutou a mensagem que dizia que ela queria falar com ele ainda hoje. Teve vontade de descer e acabar logo com aquilo, porém sabia que a história não teria um final. Sentiu medo, medo comum como o medo de ladrão, real, da morte. Buscou nova abertura, minúscula e viu a mulher gesticulando.
O interfone tocava e seu ouvido agora surdo não o deixou atender. Deitou e ficou imóvel esperando apenas que tudo ficasse em silêncio. Depois de muitas horas, percebeu a quietude da madrugada e tentou dormir. Não se atreveu a olhar novamente pela janela.

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