quinta-feira, 26 de maio de 2011

A FACE AZUL

CAPÍTULO FINAL
(PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DE LEANDRO HENRIQUE)

Depois de três anos, a vida naquela casa e daquelas pessoas havia se transformado por completo. Paula tinha se casado naquele ano e mantinha certa distância da família; vinha nos Natais e aniversários e mais nada. O filho mais velho do casal teve dois filhinhos que enchiam os avós de alegria. Senhor José adorava os netos e Dona Maura cuidava deles pelas manhãs.
Quanto a Ana Luzia sua vida agora parecia ter tomado o rumo mais inesperado. A menina prestou o vestibular e cursava o primeiro ano da Escola de Artes Dramática na Universidade de São Paulo. Era o orgulho de Dona Maura e José, este, que nesses anos passou a olhar para a moça como uma nova filha.
Luzia trazia sempre consigo um olhar no infinito. Não era de todo triste, mas carregado de melancolias. Como se algo dentro dela não tivesse colado nunca. As personagens que agora interpretava iam aos poucos compondo sua nova personalidade. Entregava-se aos textos, aos jeitos e trejeitos e caminhava para tornar-se uma ótima atriz.
         No dia da apresentação de seu primeiro espetáculo, todos da sua família foram convidados. No camarim Luzia preparava o retoque final da maquiagem e sentia uma enorme dor na barriga e um desconforto absurdo. Pensava em tudo que a vida lhe propusera, simultaneamente relembrava as falas do espetáculo, em rajadas confusas que turbinavam sua mente. Lembrou-se de sua mãe, das florezinhas junto ao terço...
As roupas pareciam pontas lacerantes sobre a pele dormente. Olhava seu rosto no espelho e viu o suor que escorria alterando a maquiagem. Respirou fundo e colocou uma flor nos cabelos, ajeitando-os suavemente. Sorriu.
Então ela se viu no espelho e pensou: Luzia escrito em avesso lê-se aizul. E riu-se da coincidência enquanto as saltitantes veiazinhas se espalhavam pelo rosto como ervas daninhas, até cobrirem-no por completo. A face, agora toda azul, como um neon estonteantemente aceso, cujo letreiro anunciava coisa alguma. Luzia apenas repetia o gesto azul da mãe. Mas como reluzia!

Um comentário:

Alê Ferraz disse...

Eis que surge Leandro Henrique, colocando flor no cabelo da Luzia.

Sorte a dela... personagem com pai e mãe. Marili e Lê - reluzindo...

Beijos!

DOIS AXIOMAS RALÉS

  AXIOMA AMOROSO Entender o outro É respeito Aceitar o outro: amor.   AXIOMA REVOLTO Ahhhhhhhhh! Ignorância É a matriz da acei...