terça-feira, 24 de maio de 2011

A FACE AZUL

CAPÍTULO 7

– No velório, minha mãe estava linda, seu rosto estava azul.
– Luzia, não pense mais nisso. Esquece essa história para você não sofrer.
– Mas eu não sofro com isso, aliás, é o que me conforta, não tive medo e sonho com a imagem dela toda azul. Só quis contar.
– Obrigada por dividir comigo essa imagem. Só não quero que sofra, pois tudo foi demais para uma garota da sua idade. O que fez para chegar aqui sozinha, não acredito nessa história, quando me lembro.
– Adorei ter viajado sozinha, mas tive muito medo.
– Claro, falei para a Neidinha, lembra? Aquela senhora que encontramos no mercado; contei que você colocou o dinheiro nas calcinhas.
– Poxa tia Maura, que vergonha!
– Vergonha nada; achei lindo isso. Bem coisa da Miriam mesmo. Sua mãe fez algo parecido quando éramos garotas. Queríamos ir para a festa da quermesse com dinheiro e papai não deixava, ele controlava o que comprávamos. Então pegamos dinheiro escondido e sua mãe colocou nas calcinhas, lá na festa escapamos e gastamos apenas com besteiras.
– Nossa...
– Ah... Que saudades!
– Dona Maura...
– O que é Luzia?
– Não vai me deixar sozinha não é?
         Dona Maura parou de falar e olhou para aquele ser antes estranho. Pensou na Miriam e viu o mesmo olhar perdido da infância. Levantou e abraçou a menina, tão forte e intensamente que não careceu de dizer uma só palavra. As duas começaram a chorar. Luzia chorou. Chorou tanto que dona Maura pensou ter que levá-la em algum lugar, era um choro guardado e sufocado pelas vicissitudes da vida. Um choro que agora lavava sua alma.

Nenhum comentário:

DOIS AXIOMAS RALÉS

  AXIOMA AMOROSO Entender o outro É respeito Aceitar o outro: amor.   AXIOMA REVOLTO Ahhhhhhhhh! Ignorância É a matriz da acei...