segunda-feira, 23 de maio de 2011

A FACE AZUL

CAPÍTULO 6

Em algumas semanas as coisas eram bem diferentes naquela casa. Maura matriculou a menina em uma escola pública perto dali; Paula estava com a mudança quase pronta, havia alugado um apartamento perto do local em que trabalhava, e depois de várias discussões com a mãe, a questão chegara ao fim. Não emprestou suas roupas, tampouco levou Luzia para conhecer seus amigos e a cidade, mas isso todos já sabiam que aconteceria.
José percebeu que a chegada da menina nada tinha mexido no orçamento familiar. Mal comia, mal falava. Sua chegada trouxe um novo sentido para a vida de sua mulher e isso ele notara. Para ele, alguns pensamentos controversos também apareceram. Olhou com certo desejo para o corpo novo da garota, as pernas frescas nos shorts ou saias, o abaixar e levantar. Isso tudo transformou a rotina do casal, já que provocava nele necessidades reais e Dona Maura era sua válvula de escape.
Embora Maura soubesse de cada passo do marido, sabia que não lhe faltaria caráter, suficientes para cometer alguma insanidade nesse aspecto e aproveitou-se dos rompantes do esposo para se entregar em noites, como há tempos não tinha. Ela sabia que tudo isso fazia parte de uma vida carregada da rotina grossa e tentava entender. Porém, não esboçava nenhuma conversa e jamais tocaria no assunto. Pensamentos são suportáveis. Apenas, observaria.
Ana Luzia só conversava pelas manhãs com a tia. Em meio ás arrumações diárias (Maura não podia negar que o serviço dividido entre as duas, tinha lhe ajudado por demais) paravam para conversar. Era o único momento em que falava.
– Dona Maura?
– Já falei para não me chamar de Dona, o que é isso Luzia.
– Desculpe tia Maura.
– Está precisando de algo?
– Não. Mamãe...
– O que tem sua mãe?
– Mamãe estava azul quando morreu.
– O que disse?

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