segunda-feira, 14 de março de 2011

A ESPERA DA PERSONAGEM - PARTE VII (Acompanhe a história lendo os textos antigos)

Naquela madrugada reli Parmênides de Eléia, filósofo favorito, e lembrei-me do que dizia ao afirmar “que só podemos pensar sobre algo que permanece sempre idêntico a si mesmo e que o pensamento sobre as coisas são e não são, ora de um modo, ora de outro, contrárias a si mesmas e contraditórias”.
O doce que amarga; o dia em anoitecer; o sólido que vira líquido; a personagem que escreve. Eu havia perdido minha identidade para essa personagem. Era instrumento de sua linguagem ficcional, persuadida em suas próprias ideias e opiniões. A verdade em mim era a percepção da mentira e a avalanche de sentidos confusos, porém, reais, havia me embriagado por completo.
Nessa perspectiva não conseguia mais escrever. Nem uma linha sequer. Decidi ir até Maria Amélia expor o caso:
– Não escrevo mais.
– Como assim? Não pode parar agora.
– Claro que posso.
– Agora não. Acabei de conhecê-lo.
– Então, conheceu. Todos irão supor o óbvio. Que vocês se encontraram na padaria. Juntaram os pães, a manteiga e... Enredo precário e comum.
– Você não pode fazer isso comigo.
– Eu vou fazer.
– Por favor, eu lhe peço. Preciso viver essa história.
– Não diga isso. Não quero escrever essa balela, esse opúsculo chinfrim. Você até já usou esse termo.
– Não consegue, não é.
– O quê?
– Escrever. É isso. Você não escreve o comum, o cotidiano. O pão com manteiga.
– Escrevo o que eu quero.
– Então continue minha história. Não é justo.
– Não me fale em justiça. Atormenta-me, fala mal, escarafuncha meus sentidos e clama por justiça.
– Alguns capítulos. O suficiente.
– Não.
– Eu suplico, apenas, o necessário. Eu prometo não intervir mais.
– Promete?
– Juro.
– Somente o necessário...
“Só podemos pensar sobre aquilo que permanece sempre idêntico a si mesmo. Conhecer é alcançar o idêntico.”
Eu agora a conhecia e isso parecia imutável em minha vida.

3 comentários:

Selma disse...

Que lindo!! a propósito: eu também reivindico, estou do lado de Maria Amélia!! Como pode querer parar uma história tão cativante??? não pode fazer isso comigo, leitora assídua! Confesso à você Marili, que vejo você falando com Maria Amélia, rindo e dizendo: "Não quero escrever essa balela, esse opúsculo chinfrim" com seu jeitinho meio de menininha e com a bochecha vermelhinha...hihihihi
Mais uma coisa: o enredo não está precário como disse à Maria Amélia viuuuu???está lindo, portanto continue, pois estou esperando!!!!
bjs

Selma disse...

Posso dizer só mais uma coisinha?? Que foto mais lindinha é essa aí??? Não me diga que é você?? (vixi nem)que carinha mais linda do mundo meu Deus!!! adorei!!! Muito fofa!!

Valsa Literária disse...

Selminha, linda, essa garotinha é o que restou de minha infância, perdida e guardada apenas na lembrança.
Adoro que você seja minha leitora é um prazer!!!

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