sábado, 19 de março de 2011

A ESPERA DA PERSONAGEM - PARTE X

Enquanto caminhavam pelo viaduto Santa Efigênia, Maria Amélia e Gomes trocavam um diálogo quase monossilábico. Para ela a sensação de ter que produzir diálogos era muito estranha, tanto tempo sozinha, e talvez para ele também.
– Sou viúvo.
– Imaginei.
A caminhada era meio sem rumo dos dois. Prestaram atenção na cena de uma garotinha que com as duas mãos juntinhas no ouvido inerte de sua boneca de plástico, pelada, contava um segredo, imaginem o que estaria revelando a pequena menina para sua amiga calada.
  – Qual seria o segredo?
– Da menininha?
– Tão pequena e já cheia de mistérios.
– Como você.
– Não sou misteriosa. Sou a mais comum das mulheres.
– Sabia que o misterioso bilhete no saco de pão a deixaria intrigada.
– Fiquei curiosa. Depois achei que era brincadeira.
– Não sabia como chegar. Sempre séria, enigmática e triste.
– Sei.
– Falei demais, não é?
– Afinal, o que você quer? Companhia? Alguém para fazer o café?
– Não, eu gosto de você.
– Nem me conhece.
– Quero conhecer algo de que já gosto e aprecio, mais a fundo.
– Estou confusa.
– Aristeu. Aristeu Gomes.

3 comentários:

Alê Ferraz disse...

Ah, certamente Dona Maria Amélia também tem uma boneca - cheia de segredos.

E a boneca já deve saber que o nome dele é Aristeu. Aliás, eu gosto de Aristeu. Esperava um nome esdrúxulo e eis que o senhor Gomes me surpreende com um mitológico...

Dona Marili! Muito bom.

Beijo!

Selma disse...

Que medo bobo do Sr. Gomes!! Gostei do nome, afinal não é tão ruim assim...rs
Quanto a Dona Amélia, creio que não tem mistérios, penso que é uma mulher cujos sentimentos se mostram: é arredia e desconfiada, tanto quanto a maioria da mulheres! Ou não?? rs

Valsa Literária disse...

Selma você acertou na mosca!!!

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