domingo, 29 de dezembro de 2013
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
PAS SA TEM PO
e não é que o tempo passou
sem que eu olhasse tanto
com inveja da meninice
do frescor do dia que antes
era tão longo e inusitado
corria de pega-pega e
se escondia atrás da noite
eu sempre fui café com leite
passa mais devagar
passa mais devagar
passa mais devagar
sem que eu olhasse tanto
com inveja da meninice
do frescor do dia que antes
era tão longo e inusitado
corria de pega-pega e
se escondia atrás da noite
eu sempre fui café com leite
passa mais devagar
passa mais devagar
passa mais devagar
domingo, 22 de dezembro de 2013
QUINHENTÃO
Caro
leitor não comece essa leitura se não estiver com ânimo, visto que a matéria é
longa e requer parte de seu tempo e talvez nada de grande te acrescente,
considere apenas um desabafo, se é que pretende seguir.
Hoje
comemoro quinhentas publicações nesse Blog Valsa Literária. Para mim mais que
um feito, é uma conquista. Comecei a escrever com exatos quarenta anos, isto é,
escrever algo de literatura, se é que posso chamar assim, escrever de verdade
tantas mentiras, publicamente e agora aos quarenta e três, olho para esses
poucos três anos com olhos de satisfação. Por que demorei tanto para começar a
escrever? Simples, não sei ainda dizer; não sei se quero escarafunchar a
temática, ou ainda, saiba lá no fundão e não queira ver; pouco importa agora. O
que sei é que por analogia, peço a vocês que imaginem uma banheira a se encher
e que de repente quase por transbordar, alguém venha e destampe, deixando que o
líquido escorra gradativamente, porque é da sua natureza fazê-lo. No início, um
grande amigo provocava-me com e-mails, solicitando mais do que respostas,
repentes literários, pequenas quadras, poemetos. Nessa troca inusitada, a água
estava por esvair-se ralo abaixo, e eu já não tinha mais o controle; gostei e
senti como algo escandalosamente bom e necessário, queria escrever,
timidamente, claro, no começo, mas depois a vazão aumentou, e a minha
necessidade era a pulso, de chofre, vital. Sofria diariamente com minhas duras
e próprias críticas, depois de feitas minhas escrituras, lia com olhos de
leitora e não gostava de grande parte, não achava o estilo, percebia a falta da
gramática normativa, errava nas vírgulas, construía subordinadas desconexas.
Como sofria. Bem pouco tempo, em conversa com esse meu essencial amigo, poeta,
escritor e compositor da melhor qualidade, debatíamos sobre a temática escrever
e ler, escritor e leitor, e fui vencida pelas suas palavras que tomo por empréstimo
aqui transcrito: “O escritor existe sem os leitores. Já que, desde que ele escreva e
seja portador de um ou mais globos oculares, terá fatalmente que ler o que
escreveu, então, será via de regra leitor também. Logo, existirá como leitor de
si, justificando a existência do escritor, que é. Já o leitor, sem o
escritor não pode ser leitor, a não ser que estejamos falando de um leitor de
código de barras, o que equivaleria a um carcerário de prisão de segurança
máxima despopulado. Marili existe porque existe. Jairo existe porque seu nariz.
André existe porque o nariz do Jairo existe apontando para a existência de
Marili. Fábio existe porque senão eu não existiria. E eu existo porque sim.”
Não sofro tanto mais, agonizo se não escrevo, porque tudo sai pela
culatra como se cuspido fosse e não me pertencesse agora, ontem e nunca; se
leio já não se parece comigo, não fui eu quem escreveu, tomou parte em universo
que hoje desconheço e que tento caminhar ao lado sem qualquer expectativa de
entendimento. Que delícia poder deixar o ralo destampado, sem a culpa do gasto.
Que bom poder desatarraxar os nós da literatura e dar uma banana ao estilo. Que
sensação única poder agora rasgar os tomos da gramática. Isso não mais pertence
a essa escritora. Que venha a eternidade!
sábado, 21 de dezembro de 2013
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
LAGARTAS
Gente chateia
Gente é bicho
É mau humor
É invejinha,
rancor
Gente é palha
Aparece e
fogo
Fala e flutua
Gente oscila
Maldosa finge
Gente é
humana
Poesia de
escárnio
Narrativa sem
fim
Gente é tese,
artigo
É comentário
e opinião
Gente assusta,
afasta
Gentarada sem
conclusão
Animais em
transformação!
domingo, 15 de dezembro de 2013
A GATA
Ela contempla
Rosas, orquídeas
Que lhe sorriem e
Soltam perfume da
Manhã orvalhada
Não teme espinhos
Teria suas garras
Apenas...
Olha e passeia
Admirada
Pelo seu jardim
sábado, 14 de dezembro de 2013
MEIO DIÁLOGO
- Você devia ter vindo.
- Por quê?
- Porque sim.
- Você deu a entender o contrário.
- Claro que não, joguei várias indiretas.
- Não tenho que entender isso.
- Claro que tem, eu é que não podia ser explícita.
- Por que não?
- Porque cabe ao homem esse papel.
- Quem falou?
- Eu falei.
- Ah!
- Perdeu.
- Você também, então.
- Eu não.
- Lógico que sim.
- Não, as mulheres sublimam mais essas coisas.
- Verdade?
- É.
- Então, tudo bem. Não vou hoje também.
- Como não, ah... Tenha dó.
- Sublime.
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
APOTEOSE
Adoro ver gente
que passa pelo
abismo, dor e
provação e tudo
tudo de mais
agressivo e
mesmo assim
sabe o que é viver!
que passa pelo
abismo, dor e
provação e tudo
tudo de mais
agressivo e
mesmo assim
sabe o que é viver!
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Hoje foi um daqueles dias...
Olhei para o Ipê sem cor definida
que foi plantado em frente da minha casa, não sei que cor tem ainda, está com
brotos, lindos e verdes, apostei no amarelo tradicional e fiquei muito
emocionada, parecia uma idiota, vai brotar, vai brotar, desci do carro e tirei
uma foto.
Depois, logo depois, acabei magoando
uma pessoa que eu amo; coisas que fazemos toda hora com quem amamos, porque
sabemos que essas voltam para gente, porque relevam e perdoam as grosserias e
os maldizeres. Agi como uma uma idiota.
Esse foi um dia idiota; daqueles
que saímos de nós mesmos, que perdemos o prumo, que escapamos de nós, do que
acreditamos, que vemos de longe o quanto somos vulneráveis, humanos, idiotamente humanos, fugimos do que amamos; um dia que serve apenas para brotar na gente a ideia da
mudança e do reconhecimento real dela.
domingo, 8 de dezembro de 2013
LEVANTE
Nasceu torto
o Sol, estava
confuso e morno
ainda havia um
pequeno fragmento
da Lua no oeste e
isso o irritava, muito;
ainda estava bêbada,
cantarolava e suava, e
insistia em ficar ali
no dia claro que dele
era.
o Sol, estava
confuso e morno
ainda havia um
pequeno fragmento
da Lua no oeste e
isso o irritava, muito;
ainda estava bêbada,
cantarolava e suava, e
insistia em ficar ali
no dia claro que dele
era.
sábado, 7 de dezembro de 2013
ASSIM
Tenho
matutado tanto por esses dias, e me veio assim uma vontade escandalosa de
viver. Não que não viva; vivo. Estou aqui ora essas, porém, sinto que é
necessário que sorva todo instante. Comi hoje canjicas salgadas, o gosto da
infância remeteu-me às doces, dos sacos rosa e transparentes em que se via e se
sabia o que íamos comer, após rasgá-los estupidamente. Queria poder ver a minha
vida meio assim, rosa e translúcida, sabendo por um fragmento do olhar o que ia
ser logo agora e sorver e comer e viver, tão despreocupada quando o fazia ainda
criança.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
POEMETO MAL ESCRITO
Nem sei se
escrevo...
Escrevo?
Ou escriba?
Sou a quem escrevo
Subscrevo-me
De noite
escrevinho
Nos finais
escrituras
Quem eu?
A mim
Em si
Nem sei
mais!
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
Bulbo
Escapei
do ninho, e vejo que a primavera nem ainda acabou, mas é assim, o escape deve
ser rápido. Nesse mesmo instante senti que o vento é mais brando na primavera,
minhas expectativas eram outras, porém o que se há de fazer com a brisa?
Senti-la, apenas. Enquanto dormitava fora do ninho pude saber o que está do
lado de cá e há certa angústia nisso tudo, porque se vê ao longe o que você era
e o que tinha. Mas a brisa bate generosa em mim e diante desse diferente
prazer, é mais certo que eu não volte. Minhas intenções eram tantas outras e
nem sei mais se as tenho; que me importa? Tenho que não pensar é no sentir e é
só.
domingo, 1 de dezembro de 2013
sábado, 30 de novembro de 2013
FRAMES
Beija-flor ali doce
Meu olho bate em
Frames desajustados
Olho quadro a quadro, pulso
Sigo o coração do bicho
Que lateja e acelera a glicose
Meu peito me abandona e me entrego
Ao vento meio brisa, das asas
Que batem.
sábado, 16 de novembro de 2013
ACALANTO
Era bem
cedo quando a velha senhora separava as gemas das claras, uma a uma, jogando na
vasilha de ágata as preciosas, amarelos-ouro. Ao todo eram doze somente gemas. Arrastava
as chinelas para cá e para lá, em movimentos deslizantes do chão recém-encerado.
Pegou o vidro e mediu no prato fundo de sempre, do açúcar mais grosso, quase
cristal, ajeitando as bordas com o dorso da colher de pau. Começou a bater as
gemas com o açúcar primeiro lentamente, enquanto assoviava baixinho qualquer
canção, depois o fremir era intenso; a melodia acompanhava agora os movimentos rápidos
que nem a velhice havia ainda levado. Com a mão desocupada apanhava bocados de
farinha de trigo que eram salpicados à mistura e assim, a massa ganhava o corpo
que a boa e solitária mulher queria. O ponto era o mesmo de quarenta anos, nem
um grama a mais nem um a menos de trigo. Chegou. A tábua longa disposta sobre a
mesa esperava a mistura pronta para ser esticada, na espessura ideal e em
seguida, ser cortada pela carretilha. Untou com manteiga bem gorda. Os sequilhos
agora prontos descansariam o tempo certo de ela limpar o pouco que sujou. As pernas
doíam demais e a saudade também. Sentada.
Vigiava. Há que se vigiar, pois assam muito rápido. O cheiro era doce e terno. Colocou
a segunda fornada.
Ouviu
o chamado lá de longe, eram os netos, eram os netos.
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
BOSQUEJO DIMINUTO
Diminutivo,
em gramática, representa o grau dos substantivos, adjetivos e alguns advérbios,
que indica qualquer coisa de pouco tamanho, enfim, expressa uma ideia de
diminuição; fato: algo é menor. O teor afetivo, irônico ou a intenção depreciativa
atribuídos com o passar do tempo pelo uso dos diminutivos nesses casos, é que
os tornaram os vilões das expressões escritas e faladas. Processo esse que se deve
ao fato da nossa língua estar em constante dinâmica.
Nesse
sentido, entender o uso dos diminutivos é fundamental, já que ele será por
diversas vezes a representação física de vários sentimentos como a inveja, a bondade,
o desprezo, a delicadeza. Há que se analisar o contexto. No complexo sistema de
trocas entre falantes da língua é necessário que o valor representado pelo
diminutivo ali mencionado, realmente seja compreendido em sua intenção.
Historicamente
pode-se entender a mudança ou formação de alguns diminutivos, a palavra
camarim, por exemplo, já foi diminutivo de câmara e hoje ganhou nova conotação;
célula, dantes, era diminutivo de cellas,
o mesmo que um pequeno quarto em mosteiros medievais; vírgula, diminuto de virga, vara, bastão; ou ainda outras
situações mais cotidianas como camisetas, camisolas e camisinhas, até caixinhas
como gorjetas, e estilete, que assustadoramente era diminutivo de estilo.
Os diminutivos,
portanto, não designam apenas a diminuição de tamanho, são mais complexos,
indicam metaforicamente sentimentos ligados às intenções e desejos de quem os
usa. Waldeck e Souza dizem que se o homem é a língua que fala é todo ele que se
coloca na linguagem e as frases então proferidas valem pela intenção do falante
e pelo contexto da situação.
Excetuando-se os
diminutivos sintéticos como estatueta, riacho, ou vilarejo, belos em sua
origem, por exemplo, e também os eruditos tal qual óvulo, nódulo e película,
adaptados pelo tempo do correr das línguas nas bocas do povo, cuidado, muito cuidado
ao usar os sufixos inhos e zinhos, esses são os mais perigosos, eles certamente
demonstrarão quem você realmente é.
terça-feira, 12 de novembro de 2013
CONTRAFEITA
Depois do alvorecer
Assim como o céu
Muda o seu tom
Eu mudei
Troquei a plumagem
E sigo agora em novas
Cores, em outro corpo
Como os papagaios contrafeitos cores-de-bispo
Se agora ainda sou eu?
Bem sei que talvez
Tenha mudado a nuance
Bem sei provavelmente que o verde do vale está agora mais claro
e límpido
Porém,
O rio que corre em sua pequena
Linha sinuosa...
Ainda é o mesmo, porque não deixou de ser rio.
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Poemas Brabos!: Pródromos
Poemas Brabos!: Pródromos: Cena interpretada na IV Mostra Artística Temática da Turma Braba Texto: Leandro Henrique Cast: Marili Santos (paciente) e Leandro Henri...
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
TEORIA DO CAOS
Quanta falta de sensibilidade
Cabe no mundo?
Quanta incompreensão
Cabe em todos?
Quanta desordem e caos
Cabem nas pessoas?
Quanta inabilidade eu tenho
Para compreender isso tudo
É imensa a minha, a nossa ineficiência
Dor tamanha, se eu pudesse entender
Saber antes o depois, isso tudo
Seria muito mais fácil...
Mas sou apenas, uma aprendiz
Preciso hoje apenas chorar tanto
Minha dor é aquela, legítima e incompreensível
E sinto o vento como nunca havia sentido antes!
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
BUSCA-PÉS
Houve um tempo
Que eu buscava
Todo o barulho
Todo o folguedo
Que a vida me dava
Descalça sobre fagulhas
Pisava qualquer faísca
Nem sentia as ameaças
Rasteiras, ironias e falsetes
Houve tempo de foguista
E tenho não mais intenso é
Já que tanta queimada há
Houve tempo de busca
Busca-és!
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
terça-feira, 29 de outubro de 2013
IDEIA INTELECTUAL DO AMOR ( Letra: Marili Santos; Música: Gabi Gabriel)
FIQUEI MUITO TEMPO
TENTANDO ESQUECER
PASSEI QUASE ANO
CANSADO EM SOFRER
FIZ SAMBA NO MORRO
PARA ME ACOSTUMAR
MAS NADA CONTORNA O AMOR
QUE TE FAZ PENSAR
ENTÃO,
NEM MESMO A POESIA
NEM
A FILOSOFIA
TRAZEM
IDEIA DA DOR
QUE
O AMOR
ESSE
ARDOR QUE ME FAZ CANTAR
COMPREI ENCICLOPEDIA
PARA ME INFORMAR
FUI AUTO-DIDATA
PASSEI ATÉ A SAMBAR
MALDITA AURORA
BARAFUNDA DOS FATOS
SÓ CAREÇO DE UM VERSO
QUE ENFIM,
TE FAÇA CHORAR.
domingo, 27 de outubro de 2013
ANUNCIO
ANUNCIO
P R O N U N C I O
R E N U N
C I O
E N U N C I O
N Ú
N C I O
Ó C I O
C I O
C I O
C I O...
SILENCIO!
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
NOVAS CONFIGURAÇÕES
Cortei calorias
pessoas, comentários
limpeza geral
na alma também
não quero vintém
de ninguém
nem açúcar, nem desafeto
nada salgado, oleoso, pegajoso
por obrigação
estou leve agora, bem mais leve, esperando, não sei o quê
algo novo
de mim
em mim há que se configurar Marili, em versão atualizada.
pessoas, comentários
limpeza geral
na alma também
não quero vintém
de ninguém
nem açúcar, nem desafeto
nada salgado, oleoso, pegajoso
por obrigação
estou leve agora, bem mais leve, esperando, não sei o quê
algo novo
de mim
em mim há que se configurar Marili, em versão atualizada.
terça-feira, 22 de outubro de 2013
ENTRE O SUJEITO E O VERBO
Como
é difícil ser gente, um desassossego imenso, uma luta diária, para não matar,
para não pegar o que não lhe pertence, não falar mal daquele, ou disso; não
desejar que se exploda. Grande dificuldade em controlar o sentimentozinho
baratinho de alegrar-se diante da tragédia alheia, de fomentar aquele prazer
incomensurável de rir daquele que um dia te fez chorar, saborosa-crua vingança.
Sobre-humano controlar a inescrupulosa vontade de trair, de contar o segredo,
de ferir, de ironizar, de diminuir, de machucar, de discutir, de apelar, e
imputar a, de inventar, de mentir, de magoar. Árdua tarefa ser pessoa-da-boa,
batalha insana contra a inconsciência, que torna permitido e justifica a
injustiça, a selvageria, a brutalidade e a maldade gratuita. Estão todos
arredios e confusos? Os sentimentos
estão arrefecendo e são já tão inúteis? Que delícia, tudo é permitido, viva a liberdade,
a desculpa, a religião, o perdão, o sem querer, a ética e a filosofia, e mais ainda, a psicologia e a
ciência, elas explicam o tudo. Entre o sujeito e o verbo há uma imensidão e na
verdade falta a bendita da concordância, e nada há de se fazer.
Viva a
literatura! Abaixo a gramática!
domingo, 20 de outubro de 2013
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
CUBO MÁGICO
Quero ter toda a dúvida
Ela garante a serenidade
Não ter certeza de algo
Nem saber para que lado
Vou e qual deles é o certo
E será que há o lado certo?
E será que o canto existe?
Preciso eu de uma face?
Assim penso, antes de tudo
Assim sinto, depois do nada
Sem saber eu crio, no vazio
E sigo incerta...porém, livre.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
DESCOMPASSO
A
moça olhava para a possibilidade do amor da mesma maneira que os comensais
famintos olham para os quitutes deitados nas bandejas. Pensava em quando
surgiria alguém que lhe completasse o corpo e com quem pudesse trocar tantas
palavras que em nenhum dicionário coubessem; porque para a moça o amor era
tanto feito de uma coisa como da outra.
Enquanto
pensava, os moços todos a olhavam. Os que podiam olhar e os que não podiam
também. A doce mulher era bela, quieta e também tão imersa em seus sonhos de
romance, que não sentia os olhos cobiçosos de ninguém; porque para a moça o
amor era feito mais do que de cobiça, era feito de uma coisa mais a outra.
E nessa
toada o destino ainda não tinha certeza de quem reservaria para a moça dos
olhos baixos, porque ela era tão distraída que não conseguiria ver o olhar
daquele moço feito para ela, o mesmo moço que quer encontrar uma menina que lhe
emoldure o corpo e com quem possa dizer todos os vocábulos do mundo.
Nessa
toada o destino repousa, aflito e angustiado, pensativo, na espreita e de
soslaio, esperando a hora certa de agir, para não haver equívoco algum; porque no
grande amor desses dois, não pode haver enganos.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
DIA DO PROFESSOR: COMO ASSIM??????
Nossa!
Nossa! Nossa!
Nunca
me senti tão valorizada, quantos parabéns pelo Dia do Professor, mensagens
calorosas pelo correio eletrônico, frases panfletárias de valorização, tudo
muito ufanista e hipócrita.
Às
favas com tudo isso. Desculpem-me, mas...
Sou
professora sim, diariamente, acordo professora e durmo professora, por decisão
minha, por gostar mesmo, por pensar que posso transformar com o pouco que
estudei alguma coisa em alguém. Que posso dividir e trocar meu conhecimento com
tanta gente de maneira leve e alegre, sempre.
Sou
professora sim, cotidianamente, quando tento encontrar as fórmulas para fazer
da minha aula algo que realmente tenha sentido para quem me ouve, quando
converso olho no olho com o aluno aparentemente perdido e mostro as tantas
possibilidades dele poder escolher o caminho que lhe agrada mais e poder seguir
sozinho.
Sou
professora sim, amorosamente, quando vejo o olhar do entendimento, o prazer do
ler, a dedicação do fazer, a transformação do caráter, a busca da autonomia e
da liberdade, as manifestações verdadeiras de carinho, de afeto, o dez com
louvor, a lista de mil exercícios resolvidos na raça; a busca, a busca, a nossa
busca.
Sou
professora sim, aos sábados e domingos, inclusive nos feriados, também nas
madrugadas e nos alvoreceres, porque essa foi minha escolha e não há que
mendigar salários justos, respeito e valorização, porque isso todo mundo já
sabe e essa conversa cansa e cansa demais. Não careço de um só dia feliz, por
favor, me perdoem, mas isso é ridículo.
Sou
professora na alma e mais, sou professora de mim mesma!
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
POEMA SEM TÍTULO
Nem tanta ideia cabe
Num mundo que é só verbo
A palavra dita já gasta de tanto uso
Sai em atropelos pela boca dos tontos
Que chega aos ouvidos dos já surdos homens...
A ideia passa assim meio desenxabida como o pássaro que
pia baixinho.
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
segunda-feira, 7 de outubro de 2013
NO ESCURO
Experimento qualquer sensação
Porque agora mais do que nunca
Necessito bastante desse mistério
Não me importo mais seja ela doce
Ou bem ácida, eu gosto disso tudo
A sensação é bem-vinda, que venha
Tonta, ou torta, arrepiada ou se enoja
Só quero que venham todas, porque é
Assim que me sinto alguém no mundo!
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
POEMETO DA PRIMAVERA
Era para vir e não veio
O céu cinza ainda me deixa tristonha
Será que a rosa se abrirá?
Nem precisei regá-la, vinha a cântaros.
Um sabiá deixou cair, os ramos do ninho, do seu bico...
E eu fiquei mais triste ainda.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
BOSSA NOVA
Reunião
na quarta-feira e na sexta-feira, você aluno comum faz o quê? Emenda à
quinta-feira, como se nada restasse no mundo a não ser fazer isso, é óbvio. Eu
faria. Diante disso, ouvi de um colega de trabalho a seguinte máxima: “Os
alunos que vieram são àqueles que a mãe não aguenta em casa”!
Como
nada a mim passa despercebida, a frase latejou na minha cabeça durante um bom
tempo. Incomodada não sabia ao certo o porquê, passei a observar quais dos meus
alunos haviam ido. Não sei mesmo dizer se a máxima proferida cabe nessa
situação, não tenho competência para avaliar o gostar e amar das mães dessas
crianças, mas o fato é que estavam diante de mim alunos que qualquer um
chamaria de problema.
Eu
mesma tive e tenho imensa dificuldade em lidar com eles, são inatingíveis, quer
seja pela constante ausência, timidez, condições em que vivem, um mente demais,
outro já esganou um colega, outro grita de repente na aula. Além de que como
alunos são da espécie que não entregam atividades, fazem tudo pela metade,
enfim, são alunos.
Olhei para eles mais uma vez. Talvez quisessem
a professora de forma mais exclusiva? Não sei. Talvez a escola fosse o único
refúgio, o lugar mais legal, mesmo chato, que eles teriam para ir nesse dia
frio e chuvoso? Não sei. Talvez suas mães tivessem os obrigado a ir para escola
porque não os aguentam em casa, ou ainda porque não têm com quem deixa-los? Também
não sei.
Não
sei mesmo. Só sei que passei agora a olhar para eles de um jeito bem diferente.
Não sei ao certo que jeito é esse, porque fiquei confusa demais, ando confusa
demais com questões assim que eu não encontro respostas imediatas para as
malditas. Penso. Que coisa. Mas que algo mudou, mudou, e disso eu tenho
certeza.
terça-feira, 1 de outubro de 2013
BOSSA
No
final das contas, passamos o dia todo a tentar sublimar as pequenas avarias que
a vida nos proporciona. Isso gasta um tempo enorme e sinto que deixo de viver
um pouco mais quando passo a meditar sobre tudo o que acontece em minha volta.
Queria ser meio desligada das coisas tão pequenas e inacabadas. Mas. Em mim há
a torturante necessidade de enxergar quase tudo, de pensar sobre as palavras
ditas, e não ditas também; de querer ver as sutilezas do mundo e já não posso mais
dar conta desse olhar, ele vai em direção oposta aos meus desejos de cegueira
momentâneos. E vejo. E penso.
E gasto um tempo gigantesco nisso tudo.
domingo, 29 de setembro de 2013
O MEDO DA ATRIZ
Há quem pensasse que o medo da atriz
era esquecer todo o texto
naqueles segundos que
antecedem sua entrada.
Outros achariam que ela guardava
uma síndrome de pânico
nunca mencionada, dos refletores;
há ainda quem diga que
a figura do diretor lhe enche de pavor.
O medo da atriz, de fato, era,
se apaixonar por alguma personagem,
tanto, mas tanto, a ponto
de nunca mais a querer largar.
era esquecer todo o texto
naqueles segundos que
antecedem sua entrada.
Outros achariam que ela guardava
uma síndrome de pânico
nunca mencionada, dos refletores;
há ainda quem diga que
a figura do diretor lhe enche de pavor.
O medo da atriz, de fato, era,
se apaixonar por alguma personagem,
tanto, mas tanto, a ponto
de nunca mais a querer largar.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
URGENTE
Não
poderia deixar de escrever sobre isso. Necessito.
Na
tarde de ontem, caminhava eu pelos corredores de um shopping, coisa que eu
detesto, e já havia resolvido o assunto que tinha me levado para esse lugar que
abomino, quando resolvi me dar um pouco de prazer e beber um café, curto e
forte.
Pedi
e paguei. Fiquei então, a esperar que a moça trouxesse a bebida. Quando recebi
o prato que continha a xícara pequena, um copinho com água com gás e um
fragmento de biscoito de maisena, achei delicado e bonito e confesso, eu
merecia o mimo.
Tratei
de cumprir a risca todas as regras de um bebedor oficial de café. Limpei o
paladar com a água, meti o docinho que se desmanchava pelas minhas bochechas e
engoli o café amargo. Prazerosamente sorri. Virei para a moça que me servira e
disse que o café que ela havia feito estava uma delícia. Ela olhou-me
estranhamente e não respondeu. Sua expressão era um misto de indignação e
mau-humor.
Pensei.
Mas eu havia elogiado. Pensei. Ela recebeu como um xingamento. Loucura total. Pensei.
Ninguém mais está acostumado a ouvir elogios e delicadezas. Pensei. Insisti.
Disse para a moça “o café que você tirou está perfeito, MARAVILHOSO, faz tempo
que eu não bebia um café tão bom”.
Ela
sorriu, meio que envergonhada, sorriso bem tímido, amparado por um meneio de
cabeça lateral e sutil, e agradeceu baixinho. Pensei. Triste. Só escuta o nada,
o vazio, a ordem, a mecanização do pó moído e o chiado da cafeteira, ela só
escuta isso.
O
café mesmo delicioso desceu mais amargo do que eu queria e a vida me deprime
cada dia um pouco mais.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
AS MENINAS QUE DORMIAM
Diz-se por aí que duas meninas
eram conhecidas por inventarem demais. Passavam parte da vida, imersas em
sonhos e construíam histórias muito boas de ouvir, mas que ninguém ouvia,
porque já se sabia que tudo era uma inverdade. As meninas, então, resolveram
que era melhor ir vivendo, do jeito mais idiota e sem graça mesmo, porque dava
muito trabalho nadar contra toda a corrente que viam e ouviam. Tanto diz-que-diz-que
enche.
Durante muito tempo as meninas se olhavam com tristeza e até
esboçavam uma historieta qualquer, porém, ao se lembrarem de toda enxovalhada,
preferiam dormitar. Passaram tantos anos dormindo que as suas cabecinhas já não
sabiam mais sonhar. As cantigas haviam sido esquecidas, nem poetar dava mais,
muito menos historiar.
Dormentes, as mãos das meninas estavam, e iam carregando a
vida vazia, sem peso, graça e sem emoção. As duas meninas, então, sentadas,
esperavam algo da vida quando se deram as mãos. Decidiram que era hora de
partir, naquele lugar ninguém saberia mais delas. No meio do caminho, se
abraçaram, os pequenos corações começaram a bater novamente e se despediram.
Uma foi pelo caminho da Lua.
Outra foi pelo mar.
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
MIRANTE
Eu tinha a certeza, enquanto olhava para a casca quebrada da árvore que se desmanchava em tronco novo, que era necessário abraçar a mudança e acolhe-la em meus braços incertos, assim como acalentamos o filho pequeno que nasceu, porque temos por lá no canto da alma a ideia de que nada mais depende de nós. Agora é somente o mirar.
terça-feira, 3 de setembro de 2013
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
terça-feira, 20 de agosto de 2013
VILANCETE IMPERFEITO
MOTE
Escrever é um fardo
Se não há mais valor
O verso sai debalde
VOLTA
Se o verso já é bastardo
Minha poesia sem ardor
Já não possui mais ledor
Que faço eu com o fardo
Quando verso é debalde
Escrevo noutro arrabalde?
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
ELEGIA MODERNA
Estar triste
Não é ser
É ter um aperto
Necessário que
Impulsiona a alma ao vento
Triste é a chuva fina que olho pela janela, que embaça
Triste é a rosa que acabou de lançar a última pétala ao
chão
É ter um lamento
É provocar o coração ao desaperto
É procurar o lirismo das bocas caladas
Não é ser tristonho ou medonho
É estar a contemplar a feiura das coisas, o gesto
inacabado e a pobreza de tudo
O tal aperto
Que leva, me leva, enleva.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
BROCARDO
Com essa vida idiocotidiana
que levo,
ter calma, tempo e inspiração
para conseguir escrever algo
é muito mais do que um mero
ato de coragem,
é uma baita sacanagem!
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