Em frente ao retrato da viúva, Amélia segurou-o mais perto e não soube explicar o que sentiu ao ver o rosto da mulher, só sabia avaliar que era bonita; muito bonita. Não sentiu seu cheiro no lugar, nem seu toque na casa; não presenciava sua existência, isso devia ser bom sinal, seria um sinal que apenas o retrato havia ficado na estante. Achou seus pensamentos egoístas, ciumentos e estranhos, e tentou disfarçar quando Gomes entrou.
– Queimei as torradas, você acredita. Mas salvei algumas, quer arriscar?
– Claro, são do quê?
– Gorgonzola. Gosta?
– Muito.
– Lambrusco? Tinto ou branco?
– Nossa, há quanto tempo não bebo nada. Tinto.
– Concordo.
– Estão muito boas. Aprovado. Mas tem algo especial...
– Aviação; misturei um pouco no gorgonzola e amassei bem antes de passar nos pães.
– Adorei.
– Fiz porque é nossa marca registrada, nossa história começou assim, achei essencial ter pão com manteiga, com um toque mais sofisticado é claro!
“Nossa história”. Pensou Maria sem responder um a naquele instante perturbador. Preferiu enfiar mais uma torrada goela abaixo e mastigar tão lentamente até que seus pensamentos voltassem ao normal. Gomes era solto, engraçado, leve. Ela era tensa, confusa e amedrontada. Dois opostos tais qual o pão, na sua simplicidade mágica e fermentativa, e a manteiga, na complexidade gordurenta e indissolúvel.
E parecia que ambos haviam sido feitos um para o outro. Naquela noite a madrugada foi curta para tantas descobertas...
2 comentários:
Também quero...
Pão com manteiga!
Puxa os dois estão se voltando a vida!!! que sensação maravilhosa devem estar sentindo!!!O ciúme de Amélia não mostrado a Gomes!!! Lindo...muito lindo!!!
Postar um comentário