sábado, 23 de abril de 2011

A ESPERA DA PERSONAGEM - PARTE XXXV

           Maria Amélia olhou algumas fotos de quando era mais jovem e quis recuperar o rosto que tinha anteriormente. Radiografou seu semblante na tentativa de transformar-se naquela pessoa de antigamente, queria estar bela e não sabia se conseguiria. Pensou no jantar de algumas horas e só imaginava em como seria. Decidiu não gerar expectativas e tratou de se arrumar.
         Gomes era um nervo só. Ligou para a filha e contou de seus propósitos. Recebeu incentivo e garantia de que viria para o casório caso esse se confirmasse. Depois ficou duvidoso quanto ao terno marrom ou azul-marinho e optou pelo azul. Olhou para o anel e sentiu-se inseguro por um segundo, não sabia como iria pedir, dizer, falar.
         Ás nove e meia, em ponto, estava estacionado na porta do prédio e logo em seguida avistou Maria, linda, num clássico vestido preto, o colar de pérolas emoldurava a face bem maquiada. Beijaram-se muito rapidamente já que estavam por demais nervosos e tímidos. O trajeto foi marcado pelo silêncio da fala, nem a melodia baixinha do rádio preenchia o ambiente carregado de insegurança e medo.
         Gomes pediu um vinho e Amélia foi ao toalete. Na volta achou a caixinha sobre seu prato. Abriu e viu um anel dourado com pequeninos brilhantezinhos cravejados num semicírculo. Era maravilhoso. Pediu que Gomes o colocasse em seu dedo. Não diziam nada. Apenas se comunicavam com o garçom. Jantaram, pediram a sobremesa e nenhuma palavra foi proferida.
         Na volta para casa, a melodia do rádio continuava emudecendo o momento. Com o carro parado e ainda ligado, Maria Amélia afirmou em uma exigência natural e consciente que era para ele colocar o carro na garagem e subir com ela.
         Amélia abriu a porta, segurou firmemente na mão de Gomes e o levou para o seu quarto. Não disseram palavra alguma porque não podiam. O amor era carente e urgente, e esse não requer palavras, apenas intenções e tenções, e isso tudo eles tinham de sobra. Tantas e tamanhas, que se amaram ao longo de toda a madrugada, desesperados e mudos.

2 comentários:

disse...

Pode ser que somente o silêncio mesmo consiga traduzir esse troço estranho, essa felicidade, essa confusão interna. Basta ver a famosa frase sacerdotal, também aos noivos dirigida: Cale-se agora ou fale para sempre!
Marili conseguiu arrancar o máximo da tensão dos apaixonados titubeantes em cada gesto. O silêncio parece que só aumentou a tensão... Estou tenso porque suponho que a escritora tenha um ás de espadas na manga pra cortar esvoaçante o fio de felicidade agora consumada dos dois... Será?

Selma disse...

Adorei!! Mas, eu no lugar de Amélia não conseguiria ficar calada...rsrs ainda mais ganhando um anel de noivado!!!! Amei a atitude de Amélia!!! Foi corajosa e determinante!!!! Isso sim é que é mulher de verdade!!!!rsrs

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