domingo, 10 de abril de 2011

A ESPERA DA PERSONAGEM - PARTE XXVIII


         Gomes caminhava sorridente pela rua e não via nada ao seu redor. Maria Amélia angustiada pensava em ter uma boneca-de-plástico-pelada para segredar o que havia acontecido naquela manhã. Gomes lembrava-se da cena e adorava o fato de ainda ter conseguido beijar uma mulher daquela maneira; depois da viuvez, alguns encontros fúteis e nada mais; o que tinha acontecido hoje era diferente, muito diferente.
         Amélia estava sentada na banqueta da cozinha e seu olhar era parado, nas xícaras, na toalha e no papel-bilhete sobre a mesa. Planejou guardá-lo em local mais seguro e especial. Não sabia descrever o que sentia talvez um frio estranho, um medo particular, a danada da confusão de ideias.
         Percebi que Maria Amélia ia tentar ter comigo nova conversa, (imagino o tema da prosa) e comecei a escrever freneticamente alguma coisa...
         Gomes não queria ir para casa e rumou para a Padaria...
         Não estava conseguindo mais delinear a narrativa, a insistência de Maria em querer falar comigo era imensa, sentia que ela estava cada vez mais próxima e concentrei-me no distanciamento...
         Gomes não queria ir para casa e rumou para a Padaria Fiães- “onde se produzem os melhores pães”- cantarolava baixinho pela rua e ria. Estava feliz, como já estivera antes, claro, mas apaixonar-se nesse final da vida, tendo vivido tantas coisas, perdido uma esposa, amado, a filha morando em outra cidade, sem netos, sozinho. Nada agora pareceria tão mais solitário e vazio, sem propósito. “Na vida não se pode perder o propósito”, ele pensou.
         Escrevia rapidamente a fim de afastar-me de uma possível intromissão de Amélia, e notei que só conseguia escrever sobre Gomes, não podia parar; Amélia era turrona e tentaria vir ao meu encontro se eu deixasse, diante desse contrassenso-não queria tornar-me sua escriba-alucinadamente voltei a escrever...
         Gomes entrou tão alegre e sorridente que a menina que resgata os pães percebeu, até Dona Maria Rosa inerte em seu tricô notou também as novas faces do homem.

Um comentário:

Selma disse...

Gomes sorridente e olhos brilhantes tão feliz que as pessoas perceberam!! Lindo isso!!!Adorei a firmeza da autora não permitindo que Maria Amélia viesse falar com ela, manteve a concentração e foi até o fim desse capítulo, mas por quanto tempo????rs

DOIS AXIOMAS RALÉS

  AXIOMA AMOROSO Entender o outro É respeito Aceitar o outro: amor.   AXIOMA REVOLTO Ahhhhhhhhh! Ignorância É a matriz da acei...