terça-feira, 5 de abril de 2011

A ESPERA DA PERSONAGEM - PARTE XXIV

Pensei em ter uma conversa com Maria Amélia naquela manhã. Ela não podia ter contado para Gomes que ele era uma personagem. Gomes não traz em si a mesma natureza intempestiva de Amélia, ele é doce e subserviente. Achei melhor não, era preciso garantir um distanciamento. Sim, eu não podia mais interferir em nada. Deveria apenas escrever a história.
Certamente a melhor maneira de fazer com que Maria entrasse de vez nessa narrativa, era fazer com que ela acreditasse na sua loucura momentânea, abraçasse a verossimilhança dos fatos e do enredo e definitivamente se esquecesse de mim, do que me pediu e do acordo que fizemos quando invadiu minha vida literária.
Ao mesmo tempo sentia uma saudade imensa dela, da sua rabugice condenatória, exigindo de mim, cobrando; do misto de medo e entrega que confundiam sua cabeça fictícia. Gostava dela, sim, havia uma dedicação especial minha para essa protagonista, para esse texto que construíamos juntas; simples, precário, boi-com-abóbora e chinfrim.
Inclusive e mesmo porque existiam agora outras figuras fictícias envolvidas, que ganharam massa dramática, peso gramatical. Coadjuvantes com seus momentos de glória - garoto, a menina que resgata os pães, Portuga e Maria Rosa- que haviam ganhado de mim pequenas historietas que tinham muito ainda de serem entrelaçadas no caminho de Gomes e Maria Amélia.
Não vou procurá-la. Chega. Vou escrever essa narrativa até o fim. Voltarei a escrever essa história, pois há uma personagem a minha espera!

Um comentário:

Selma disse...

Isso!!! gostei da firmeza!!! Não pode deixar a pobrezinha desacreditada e infeliz!!!! Ela precisa sim, como você já disse, de um final...e que seja Feliz!!!! Basta ela acreditar que não é apenas uma personagem, mas uma pessoa que está emergindo do fundo de uma vida apagada, sem boas recordações... e que agora, merece tudo de bom!!!!

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