A moça que resgata os pães chorava copiosamente enquanto Gomes tentava reanimar Portuga caído no chão.
– Corre garoto, liga para o resgate. Vai!
Gomes fazia massagens no peito descamisado do Portuga que parecia um pão branco e sem vida. Pensou no pior, mas não quis dizer nada a ninguém. Os clientes da padaria fizeram um círculo em volta.
– Abram espaço, abram espaço! Reage, homem, reage...
Dona Maria Rosa abraçada a mocinha que resgata os pães não olhava para eles, o tricô deixou cair no chão, e nem se lamentou de ter perdido o ponto. Em menos de dez minutos os paramédicos chegaram e começaram os procedimentos.
– Ele vive?
– Sim, vai ficar bom.
Gomes tranquilizou Dona Maria Rosa e disse que ficava na padaria até que um dos filhos deles chegasse para fechá-la. A ambulância levou os dois, acompanhada pelos olhares curiosos daqueles que veem prazer na tragédia.
O garoto aproveitou o momento para abraçar a mocinha que resgata os pães, mas não chorou. Ficou firme ao lado dela. Gomes pediu aos dois que voltassem ao trabalho, pois certamente seria isso que Portuga diria.
– Garoto, traz um café.
– Sim senhor.
Gomes sentou no balcão e teve uma vontade absurda de chorar. Não conhecia o Portuga há tanto tempo assim, mas esse tipo de laço estreito que mantinham, essa amizade descompromissada, leve, sem nada, absolutamente sem nada a cobrar ou declarar, simples como dever ser o “querer-bem”, o gostar gratuito, faziam deles grandes amigos. Não podia perdê-lo agora, não agora.
2 comentários:
Ahh não... logo o padrinho-confidente de Gomes?? vai ver ficou tão emocionado em lembrar-se da época que ia no mercado municipal comer bolinho de bacalhau e do tempo que vivia tão puramente o amor, que a emoção foi forte demais... mas vai ficar bom...não vai?? ai meu Deus!! agora torço pelo Portuga!!!!
Oi Selminha, é ótimo ler novamente seus comentários, fiquei louca quando vi. Acho que foi a emoção de ser padrinho do Gomes, mas o Portuga vai ficar bem, isso eu garanto!
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